domingo, 26 de março de 2023

Lajes Pintadas: Um exímio lavrador

 Mestre Queiroz

Conforme já aqui, outro dia, escrevinhei, aportei em Lajes Pintadas/RN, advindo de Campo Redondo/RN, por transferência, no ano de 1986, todavia já pairava por essas plagas, dês alguns anos antes, vez que foi em Lajes Pintadas que encontrei uma linda donzela e, após o período de namoro, noivamos e sacramentamos nossa duradora união no ano de 1984.

Construí uma casinha de tijolo de Adobe, rebocada com barro e piso de cimento queimado numa antiga garagem de propriedade do meu sogro.

Abrindo um parêntese:  meus causos, por mais que tente eximir-me da trama, sempre há um pouco de autobiografia, até certo ponto proposital, haja vista tratar-se de estórias "verídimas" (como diz o amigo Vivi), por isso, no intuito de não querer tomar o precioso tempo do leitor, vamos regressar àquela época e retomar o 'assucedido'.

Aproveitando o espaçoso terreno do muro do meu sogro, agilizei em plantar três dezenas de frutíferas, dentre as quais, mamoeiros, limoeiros, aceroleiras, gravioleiras, que, encontrando solo fértil,  precocemente começaram a frutificar.

Final da década de 1980, numa  mudança de administração municipal, recebi uma "promoção grega", sendo transferido para outras localidades não tão próximas, que me obrigava a praticamente abandonar minha casa, em razão da defazagem  e o atraso de cinco meses no pagamento do "quase nada" salário.

Numa das "visitas" mensais a minha família, fiquei surpreso com a "mata" que crescera no muro, cobrindo e sufocando minhas fruteiras, que, em desvantagem, concorriam com as ervas daninhas em luz, espaço físico, nutrientes e, principalmente, água.

Meu pomar nada mais produzia e, urgentemente, precisava de tratos culturais, começando por uma capina pesada, de modo que, após desafogadas as frutíferas, os tratos complementares e rega pudessem ser feitos.

Ao sair em busca de trabalhador rural para executar a capina, deparei-me com Antenor da Viúva (de saudosa memória), que, coincidentemente, estava procurando serviço e, até parece, adivinhou meus pensamentos:

--- Rapaz, se vc estiver precisando de um trabalhador  para "arrancar mato", lembre-se de mim, pois estou precisando...., disse-me Antenor, que, em ocasiões anteriores já houvera me trabalhado arrancando mato.

Claro que levei-o urgentemente ao pomar e fiz questão de identificar com muita dificuldade cada fruteira sufocada e após explicar que queria tudo limpo, fizemos a empreitada e eu viajei no dia seguinte.

Naquela semana houve um feriado prolongado e regressei na quinta-feira à tarde, animado por dois motivos: um, ia passar um final de semana com minha fofa, dois, ia contemplar meu pomar e fazer adubação, poda e aguação.

Cheguei a tardinha e a primeira pessoa que encontrei "por acaso", com cara de quem não quer e querendo, foi Antenor, que, claro, entendi, espreitava o pagamento.

Ao me ver, cumprimentou-me com o boa tarde apressado e logo me foi dizendo:

-- O seu muro está um brinco; está tudo limpinho. Limpei tudo, do jeitinho que você me disse.

Paguei o combinado e como já estava anoitecendo deixei para verificar o serviço no dia seguinte.

O dia amanheceu e antes do café resolvi verificar meu pomar, fruto de alguns anos de muito trabalho, amor e dedicação.

Quão grande foi minha surpresa ao verificar que o terreno estava realmente limpo, conquanto, estupefeto localizei Antenor e pedi explicação a ele sobre o acontecido.

- Antenor, acertei com você para limpar meu pomar e fiz questão de mostrar-lhe cada pé de pinha, graviola, acerola, limão, goiaba e mamão e lá, nada mais existe, somente o terreno varrido e mais nada...

Antenor sem surpreender, respondeu de bate-pronto:

-- Pois é, fiz do jeito que você me disse; lembra-se que você me falou que era pra deixar tudo bem limpinho?!!!


Mestre Queiroz é Extensionista (aposentado) da EMAtER, técnico em agropecuária, bacharel em Ciências Contábeis, advogado, poeta, agricultor e aprendiz de escrevinhador...


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