O governo do RN suspendeu nesta sexta-feira (29) o retorno às
aulas presenciais no dia 1 de fevereiro na rede estadual de ensino. As aulas
ainda recomeçarão nesta data, mas apenas no formato remoto.
Em nota, o Poder Executivo informou que a decisão "segue entendimento de outros estados do país, que optaram por retomar às atividades escolares ainda de forma remota até que as condições sanitárias em face da pandemia do coronavírus estejam integralmente satisfatórias". Do G1 RN!

Artigo do Prof. Ivan Maciel de Andrade (Professor de Direito da UFRN, Procurador de Justiça, Escritor, Ex-Consultor-Geral do RN) publicado na Tribunal do Norte de hoje, sábado, 30 de janeiro de 2021.
ResponderExcluir''Ivan Maciel de Andrade
Artigo publicado hoje na TN
O MORDOMO É A IMPRENSA
A mentira é inerente à atividade política? A filósofa Hannah Arendt entende que sim. Escreve: “Jamais alguém pôs em dúvida que verdade e política não se dão muito bem uma com a outra, e até hoje ninguém, que eu saiba, incluiu entre as virtudes políticas a sinceridade. Sempre se consideraram as mentiras como ferramentas necessárias e justificáveis ao ofício não só do politico ou do demagogo, como também do estadista”. E, então, questiona: “É da essência mesma da verdade o ser impotente e da essência mesma do poder o ser embusteiro?”. A genial pensadora analisa o desdobramento dessas indagações no ensaio “Verdade e política” que integra a conhecida obra “Entre o passado e o futuro”.
Em nenhum momento da história humana a negação da verdade fatual foi tão nociva e danosa a um tão grande número de pessoas como durante a pandemia. A posição de alguns governantes que tentaram ocultar a gravidade da Covid-19 contribuiu de forma decisiva para o retardamento das providências preventivas destinadas a conter a disseminação do vírus. É emblemático o caso de Trump: foi informado com antecedência da ameaça de propagação do novo coronavírus, de seu alto poder de contaminação e perigoso grau de letalidade. E nada fez, criminosamente. Esses governantes se opuseram às medidas de distanciamento social. E ridicularizaram até mesmo o uso de máscaras.
O exemplo de Trump prosperou em várias partes do mundo. Inclusive no Brasil. A mentira que permitiu, pela omissão negacionista de vários governos, a expansão e o agravamento da doença foi desmascarada pela imprensa escrita (redundância!), falada e televisionada. Daí a ojeriza, o desprezo e a hostilidade com que o governo Trump, o brasileiro e muitos outros passaram a tratar os meios de comunicação. Esse modo de agir se refletiu obviamente nas redes sociais. A divulgação do número de infectados e de óbitos passou a ser considerada uma atitude condenável, um desserviço à população, uma espécie de conspiração contra o establishment. Foram invertidas as relações de causa e efeito: atribuiu-se cretinamente à notícia, à informação, a angústia e inquietação provocadas pela pandemia.
Agora chegou a vez da vacinação. E de novo se tenta menosprezar, maldizer e estigmatizar o trabalho da imprensa. O programa de vacinação está caótico? Intriga da imprensa. O Brasil não se programou para comprar o maior número possível de vacinas e não está conseguindo levar adiante um plano abrangente e célere de imunização? Essa denúncia é fruto da incompreensão e má vontade da mídia, porque o importante não é a vacinação, é o tratamento preventivo à base de hidroxicloquina e outros remédios que o Ministério da Saúde adquiriu em grande quantidade e distribui como panaceia.
Pouco importa que não haja confirmação científica quanto à eficácia desses medicamentos no tratamento da Covid-19. O governo não dá bolas para a ciência. E o principal alvo de seus ataques é a imprensa. Nos antigos romances policiais ingleses, o culpado era na maioria das vezes o mordomo. Para o governo, o mordomo é a mídia. O que desagrada mais é a mania obsessiva da imprensa em descobrir e revelar os fatos – a verdade. Pois a verdade é quase sempre inconveniente e insuportável.''
João de Elias